(22 de Fevereiro). (Ano 1900. Hora aproximada: entre 9 e 11)
Nasce em Calanda, provφncia de Teruel, mas a sua famφlia se muda para Saragoτa aos quatro meses de ter nascido. Estuda com os jesuφtas e, ao parecer, isto o marca para toda a vida. Parece que tinha duas paix⌡es importantes: as armas de fogo e a problemßtica religiosa.
Aos dezessete anos obteve uma lugar na ResidΩncia de Estudantes de Madrid, foco de cultura significativo daquela Θpoca. Lß organizou sess⌡es de cine-clube entre 1920 e 1923. Depois o grande salto: a sua partida para Franτa em 1925 com Salvador Dali, o seu primeiro companheiro de imagens prΘ-surrealistas num inesquecφvel Cπo andaluz que primeiro escandalizaria, e depois admiraria o mundo da sua Θpoca.
Aquele encontro explosivo com o cinema marca a sua trajet≤ria futura e Luφs Bu±uel se converte num personagem da hist≤ria viva. A sua curiosidade o leva a meter-se nos mundos da fantasia, dos sonhos recorrentes e obsessivos nunca confessados pelo resto dos seus contemporΓneos e sempre presentes numa educaτπo fechada e confessional.
A guerra civil, o exφlio, um peregrinar por terras da Europa e da AmΘrica e o ref·gio norte-americano, atΘ que a censura de guerra o faz partir para o MΘxico a construir a sua verdadeira carreira criadora. Trabalha para a Franτa e para a Espanha e a sua figura se converte numa lenda viva. A Rata e a Serpente vπo unidas nesta figura inquieta, obcecada -mas nπo angustiada-, encerrada αs vezes na sua surdez, mas nunca isolada do rico mundo de personagens e ideias que ele sabe explicar com fotogramas misturados com fantasias e duendes do inconsciente. A terra, que Θ o seu elemento, nπo parece travar o seu φmpeto criador; a contemplaτπo se transforma em observaτπo, ao passo que a meditaτπo se transforma numa constante reflexπo sobre o ser humano e os seus mais rec⌠nditos segredos, tanto instintos como paix⌡es. A Rata apaixonada pelo seu carßter tambΘm se manifesta no amor pelas paix⌡es alheias, e o torvelinho das suas imagens ainda tem a mesma forτa da mπo do mßgico Bu±uel.
Se diz que Rata e Serpente sπo uma combinaτπo em plena efervescΩncia; talvez essa efervescΩncia seja a reaτπo que impulsou este homem genial a mover-se de um lado para o outro, a trabalhar sem parar na criaτπo do que jß estava desde sempre na sua cabeτa criadora. Documentßrios, curtas-metragens de ensaio, filmes de encomenda (filmes alimentφcios, assim os chamava ele), melodrama, retratos daquela parte da vida que nπo se queria ver e, finalmente, a sua obra real, o cinema que sempre quis fazer: Os esquecidos, Ele, Ensaio de um crime, Nazarφn, Viridiana, O Anjo Exterminador, Dißrio de uma criada, Simπo do deserto, Belle de Jour, A Via Lßctea, Tristana, O Discreto encanto da burguesia, O fantasma da liberdade e Esse escuro objeto de desejo. Como bom Rata teve que esperar muitos anos para poder realizar o seu desejo, e como bom Rata tambΘm, conseguiu o que quis α custa do seu trabalho, de um incessante deambular pelos caminhos da realidade e pelos subterrΓneos da imaginaτπo.
Esta combinaτπo de Rata com Serpente torna o Rata realista; mas nπo suficientemente para evitar aderir a movimentos culturais que preconizem a saφda α luz daquilo que sempre permanece na escuridπo, paralelo com o inconsciente, o ominoso e o onφrico. Hß que realτar o desagradßvel, o inc⌠modo, e nπo por prazer de tipo m≤rbido, mas como paradigma, para que sirva de exemplo dessa realidade desagradßvel que, com freqⁿΩncia, evitamos para que o nosso mundo anφmico permaneτa satisfeito e tranqⁿilo. A Θpoca surrealista que Bu±uel viveu intensamente Θ pr≤diga em contrastes e personagens contradit≤rios. Ele pr≤prio Θ um deles: um Rata que sai incessantemente da escuridπo para a luz, e vice-versa; que prefere αs sinuosidades do azar, o domφnio da tΘcnica por meio do trabalho intermitente e coerente.
RATAS C╔LEBRES
Personagens Rata famosos: Adenauer, Luois Armstrong, Bernanos, Lucrescia Borgia, Werner von Braun, Charlotte Bronte, Luφs Bu±uel, Pablo Casals, Clausewitz, Chang Kai-Chek, Chateaubriand, Alphonse Daudet, Disraeli, Manuel de Falla, Galileu, Julian Green, Haydn, Himmler, Ibsen, Ionesco, Lawrence de Arßbia, Jack London, Louis LumiΦre, Mata-Hari, Monet, Mozart, Pedro, o Grande, Rodin, Rossini, Saint-Exupery, George Sand, Scarlatb, Shakespeare, Johann Strauss, Tchaikowsky, Toulouse-Lautrec, Tolstoi, Torquemada, Miguel de Unamuno, George Washington, Emile Zola.